Última atualização em Ter, 11 de Maio de 2010 11:58 Escrito por Amauri de Paula Sex, 07 de Maio de 2010 00:00

“SE VOCÊ ESTÁ AQUI VOCÊ È A RESISTÊNCIA” dessa forma retornava ao ar após ter sido deletado do servidor o Fórum FARRA. Eventualmente eu acho que a indústria dá um tiro no pé. Esse provavelmente foi um desses casos.
Desde que resolvi escrever essa coluna, algumas pessoas me perguntaram a razão. Eu poderia enumerar todas as razões possíveis, mas subitamente, percebi que é um assunto que é completamente ignorado pela mídia, salvo quando é do interesse do setor industrial. Fiquei sabendo por amigos, porque os jornalistas especializados são quase unanimes em concordar com a indústria, afinal é ela quem paga o salário de muitos deles.
A caça as bruxas na internet não é nenhuma novidade. O compartilhamento de arquivos também não é. O problema é que ao generalizar o tratamento aos diversos tipos de compartilhamento como “pirataria” a indústria do entretenimento corre o risco de afastar o consumidor e não o contrário.
Quando fui informado que o fórum FARRA, um dos mais antigos do país, e muito respeitado pelos membros havia sido tirado do ar, resolvi olhar mais de perto, e alguns sites, não só o FARRA haviam saído de circulação na mesma época (nos últimos sete dias). Bem, isso entra dentro do tema dessa coluna e aqui podemos nos expressar livremente. Com um ar debochado, e utilizando como símbolo o guerrilheiro Che Guevara o irreverente fórum era (e continua sendo) um espaço para troca de idéias, e compartilhamento de arquivos. A grande maioria era de quadrinhos. Pouco tempo depois de ser retirado do ar o fórum voltou, e com energias renovadas, afinal, agora eles são a resistência.


A APCM (Associação Antipiraratia Cinema e Música) mantém uma política de monitoramento da rede, tem cartilhas anti-pirataria, tem até um local para você fazer denúncias anônimas. É claro que o anonimato na rede é quase impossível, a menos que você tenha um nível médio de conhecimento de navegação na internet. Então isso é mentira, você não está anônimo. Não para eles pelo menos.
Não vou entrar no mérito da questão da APCM. Ela cumpre o seu papel. Mas podia cumprir melhor. A lei deve servir ao povo e não o contrário. Com leis totalmente defasadas é necessário que para que ela ganhe legitimidade de fato se repense todo o sistema de direito autoral. Até mesmo a forma com que se tira um site do ar deveria seguir procedimentos, incluindo a conversação amigável. Mas não há indícios que isso vá ocorrer.
Toda ação tem uma reação e as reações normalmente apenas pioram a situação, provocam estragos desnecessários e me irritam particularmente. Não me lembro de mega empresas de armazenamento de arquivos (aquelas que oferecem a você uma assinatura premium para download a meros X Reais enviando uma mensagem de texto para as principais operadoras de telefonia). Não sei exatamente onde o blog/site de ganha dinheiro com scans, que é nosso assunto principal, mas sei onde ESTAS empresas ganham. Que eu saiba nenhuma delas saiu do ar, e continuam ganhando dinheiro com os downloads que a APCM considera como piratas. Mas na máxima de George Orwell em a Revolução dos Bichos “Todos os animais são iguais, mais uns são mais iguais que os outros.”.

Na China uma matéria recente do portal da Editora Abril anunciava que os chineses estavam burlando as formas de controle do estado para terem acesso a uma figura inusitada, uma atriz pornô japonesa (Aoi Soila), lembrando que a ferramenta Twitter é proibida no país. Veja um trecho
“Os chineses estão distribuindo entre eles, softwares , que burlam o sistema de censura chinês. 15 mil chineses já acessaram a página.
A constatação demonstra a facilidade com que se consegue passar pelo controle chinês, e ilustra, também, o tipo de conteúdo que incentiva as pessoas a fazerem isso.
“Na China você pode acessar o que quiser na internet, basta querer muito”, é o que afirma o especialista em web, David Wolf. “
Bem, a questão é que ao lidar com quem QUER MUITO nem o governo chinês conseguiu impedir a proliferação. A comparação parece absurda? Se as editoras quiserem melhorar seu relacionamento com seu público, deve adulá-lo. Não é um setor de entretenimento tão sólido assim, e quanto mais eles insistirem nesse tipo de política de “você está contra a lei, sinto muito” mais as pessoas vão QUERER, porque eles não oferecem uma forma LEGALIZADA de obter o produto. As alternativas surgem, mas parecem caminhar a passos de tartaruga.A indústria mais bem preparada é a dos Estados Unidos. Ela não consegue parar a internet. Para mim a função do sensor, do politicamente correto na internet é similar a de um toureiro que adentra a arena sem espada nem capa. É burrice.
Há crimes digitais? Há. Não penso que o scan, na maior parte dos casos seja. Como tudo creio que existam exceções (vender conteúdo de terceiros por exemplo).
O site HTMLComics que foi tirado do ar por ter conteúdo licenciado nos Estados Unidos de forma ilegal conforme notíciado pelo site Universo HQ, que cita um site/fonte que originou a ação do FBI com as empresas de quadrinhos, o Bleendig Cool, era mantido por um homem de 47 anos que fazia isso como um hobby, em sua alegação.Curiosamente o próprio site(que se viu embaraçado) lançou um desafio ao FBI e a Indústria dos quadrinhos, juntamento com o escritório de advocacia que os representava: Vocês tiraram do ar um site de um cara de 47 anos, mas e se fossem os russos? E cita um site (Spider.ru), que não só lança scans recentes na internet, como ainda anuncia no Twitter. Eles terminam dizendo, ok, FBI e editoras, sua vez de mover. (veja o link em inglês).
Também temos doenças na internet e a miopia é uma delas, com uma vantagem: pode ser tratada.Amauri de Paula também faz parte da resistência e adiou sua matéria sobre Pornografia, mercado digital e quadrinhos para chamar a atenção, mas na próxima semana promete uma coluna porno-gráfica. A coluna Equilíbrio Distante tem como objetivo discutir tudo relacionado ao conteúdo digital e sua relação com autores, agrade ou não.
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