terça-feira, 27 de novembro de 2012

Livro ensina a escrever ficção científica e fantasia sem cair nos clichês

Livro ensina a escrever ficção científica e fantasia sem cair nos clichês

Por:  |  em 16/05/2012  |  6 comentários


Como projeto de roteirista que sou, estou sempre procurando livros, filmes e quadrinhos que ensinem a escrever roteiros e literatura. No entanto, a maioria dos títulos é quase uma repetição dos mantras teóricos ensinados por Syd Field no clássico “Manual de Roteiro” (pra lá de ultrapassado). Não estou dizendo que a velha escola é um lixo, mas que com caras geniais como Quentin Tarantino andando por aí… tudo soa um pouco datado.
E para piorar ainda mais a minha situação, o terreno mais fértil na minha principiante imaginação de escritor está na narrativa fantástica, que abrange os gêneros: terror, ficção científica e fantasia. Onde diabos vou encontrar uma estrutura adequada para construir histórias que aconteçam em mundos imaginários, povoadas por criaturas inexistentes e em situações impossíveis? A minha resposta inicial seria: nas próprias obras clássicas de cada gênero e nos jornais da realidade.
Porém, o mundo habilitou o modo easy para você jogar a vida de escritor de maluquices numa boa! É com muito orgulho que apresento “The Guide to Writing Fantasy and Science Fiction” (Adams Media) de Philip Athans, editor da Wizards of the Coast. O cara é o responsável pela produção de literatura fantástica da editora que publica os RPGs da linha Dungeons & Dragons e do cardgame Magic The Gathering, ambas com vários livros interessantes derivados de seus jogos.
As dicas são extremamente preciosas para qualquer escritor, mas com exemplos que vão pegar em cheio aqueles que tem pretensões fantásticas. Por exemplo, o autor recomenda que se use unidades de medida comuns ao leitor ao invés de criar uma própria se a unidade tem o mesmo valor numérico. Ele cita o seriado de TV “Battlestar Galactica”, que tem um personagem que ao invés de dizer “wait a minute” diz “wait a centor”. Pode parecer legal na televisão, mas em um livro pode ficar realmente confuso se usado em excesso. Onde diabos eu leria esse tipo de informação bizarra e útil?
As grandes colaborações do livro estão na hora de construir os personagens e o universo em que eles serão colocados.
O autor revela os segredos de alguns escritores experientes, como a produção de uma “bíblia” de seu romance/quadrinho/filme durante o processo de pesquisa. Essa tal bíblia é o livro onde você guarda todas as informações referentes ao seu universo e que deve ser consultada e ampliada sempre que possível. Mas ele alerta que nem tudo o que está ali é regra, pois a principal função desse banco de dados é informar e não ditar. A palavra final é sempre sua, que deve trabalhar sempre em função do melhor resultado para a história.
Philip Athans escreveu mais de 38 capítulos destrinchando os mais diversos temas dentro da escrita fantástica: como usar a ação nas histórias, qual a função do alívio cômico, como fazer laboratório criativo, a melhor maneira de apresentar seu trabalho para um editor e muitas outras pérolas que os porquinhos aqui vão adorar!
Para fechar a obra com chave de osso de dragão, Athans convidou o lendário R. A. Salvatore para escrever um conto que será analisado no final do livro. Para você ter uma ideia, o Salvatore só é o cara que escreveu a saga do Elfo Negro de D&D, que é considerada por todos os nerd true desse mundo como uma das coisas mais fudidas que você ainda não leu na sua vida.
Se você tem pretensões literárias, quadrinhísticas ou cinematográficas que envolvem quebra da realidade na estrutura do roteiro, recomendo fervorosamente a leitura de “The Guide to Writing Fantasy and Science Fiction”. Para os que preferem histórias mais pé no chão, afirmo que o livro é obrigatório só pelas dicas de estrutura narrativa, composição de personagens e por ser bem escrito pra caramba. É uma lição para qualquer amante da arte de contar histórias.

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