Enquanto os EUA assistem à substituição da mídia tradicional pela digital, o Brasil ainda engatinha nessa área.
- Por Felipe Demartini
- 24 de Novembro de 2010
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Para a Apple, o dia 16 de novembro de 2010 seria um acontecimento que os fãs da marca jamais esqueceriam. Foi nesta data que todo o acervo dos The Beatles, uma das maiores bandas do século XX, chegou à iTunes Store e se tornou disponível para todos de forma digital. O anúncio, porém, não foi muito bem recebido pela maioria dos fanáticos pela empresa.
A novidade, entretanto, tem um significado muito maior para a Maçã. Devido às disputas na justiça devido à marca (a empresa de Jobs compartilha seu nome com a gravadora dos Beatles), a banda de Liverpool era uma das poucas a ainda ter seu catálogo disponibilizado apenas em meios físicos, como CDs e DVDs. A notícia marca em definitivo a vitória da iTunes Store sobre a distribuição tradicional, e indica um futuro de mídia exclusivamente digital.
Todo esse mundo de conteúdo, porém, não está disponível para os brasileiros, que se limitam apenas em assistir ao barco passando de longe e ficam na esperança de que um dia serviços deste tipo cheguem com força por aqui. Há muitas razões para o atraso do Brasil neste quesito, mas elas basicamente giram em torno de dois pontos principais: leis e licenciamento.
As barras superiores das lojas americana e brasileira. Você consegue dizer qual é qual?
Fonte da imagem: Divulgação / Nintendo
A novidade, entretanto, tem um significado muito maior para a Maçã. Devido às disputas na justiça devido à marca (a empresa de Jobs compartilha seu nome com a gravadora dos Beatles), a banda de Liverpool era uma das poucas a ainda ter seu catálogo disponibilizado apenas em meios físicos, como CDs e DVDs. A notícia marca em definitivo a vitória da iTunes Store sobre a distribuição tradicional, e indica um futuro de mídia exclusivamente digital.
Todo esse mundo de conteúdo, porém, não está disponível para os brasileiros, que se limitam apenas em assistir ao barco passando de longe e ficam na esperança de que um dia serviços deste tipo cheguem com força por aqui. Há muitas razões para o atraso do Brasil neste quesito, mas elas basicamente giram em torno de dois pontos principais: leis e licenciamento.
App Store limitada
As barras superiores das lojas americana e brasileira. Você consegue dizer qual é qual?
A diferença entre as lojas da Apple brasileira e americana é percebida logo na página inicial. Enquanto nos EUA os principais destaques vão para as músicas mais vendidas e filmes mais assistidos, na brasileira a home é tomada por aplicativos de produtividade e outros muito pouco interessantes.
Apesar de músicas e filmes não estarem disponíveis, o que realmente deixa os usuários de gadgets da Apple frustrados é a ausência de games na loja nacional. A vilã desta situação é uma só: a atual legislação com relação à classificação indicativa desse tipo de conteúdo em nosso país.
Uma portaria publicada pelo Ministério da Justiça em 14 de junho de 2006 torna o órgão único responsável pela classificação de filmes e jogos eletrônicos. Como o sistema usado em nosso país é diferente do americano, a indicação dos EUA não vale por aqui e a análise teria que ser feita novamente. Devido à grande quantidade de games para serem avaliados, isso levaria algum tempo.
Este processo, porém, vai contra os princípios da App Store, que é sempre levar o menor tempo possível para aprovar um aplicativo. Muitas vezes, softwares são submetidos à avaliação e publicados na loja no mesmo dia. Esta é a explicação oficial da Apple para a ausência de jogos na loja brasileira.
Nos consoles, o mesmo problema
No início de novembro, a chegada da Xbox LIVE ao Brasil foi muito comemorada pelos fãs de games. Agora, a rede online do console da Microsoft poderia ser usada oficialmente no país, com preços em reais e conteúdo totalmente em português. Na teoria, a ideia é belíssima. Na prática, não funciona bem assim. E a vilã, mais uma vez, é a classificação indicativa.
O conteúdo de jogos digitais é praticamente inexistente. Apesar de possuir uma biblioteca considerável de demos e conteúdos extras, todos os títulos são games já disponíveis oficialmente no Brasil, ou seja, já avaliados pelo Ministério da Justiça. Por isso, muitos gamers ainda preferem utilizar o serviço americano, mas enfrentam um sério problema na hora das compras: a LIVE não aceita cartões de crédito brasileiros.
Os problemas também acontecem na Playstation Network, rede do console rival. Por lá, é possível criar uma conta brasileira, mas ela não dá acesso à loja virtual nem a outros serviços disponibilizados pela Sony. Comprar jogos então, nem pensar. Com isso, a quantidade de brasileiros com contas nacionais é nula, e a maioria dos nossos conterrâneos prefere criar perfis americanos.
O problema com o cartão de crédito, porém, persiste. A Sony exige cartões com endereços nos EUA para a realização de compras e os usuários, em sua maioria, apelam para métodos alternativos ou ficam apenas assistindo de longe ao mundo de conteúdo disponibilizado. Apesar de rumores constantes, a Sony afirma não ter planos de trazer a PSN ao Brasil em um futuro próximo.
Fonte da imagem: Divulgação / Nintendo
Neste quesito, a vantagem ainda está com o Nintendo Wii, que permite a compra de conteúdo digital por cartões de crédito brasileiros e não limita a criação de perfis ao país no qual o usuário mora. A rede online do console, porém, é considerada a pior das três e não possui opções intuitivas para jogabilidade online e relacionamento entre amigos.
Engatinhando em filmes digitais
O serviço Saraiva Digital, lançado pela rede de livrarias de mesmo nome, foi lançado em 2009 com a promessa de liderar a oferta de filmes pela internet e oferecer títulos com preços cerca de 15% menores que o de DVDs. Mais de um ano após o início das operações, porém, a iniciativa ainda engatinha e não deu origem a uma tendência no país.
O principal motivo para isso são os preços. Enquanto o aluguel de um filme, que pode ser assistido por períodos entre 24 horas e três dias de acordo com a categoria, sai em média por R$ 6,90, a compra de um arquivo digital pode custar até R$ 35, preço equivalente ou até maior que a versão em disco físico. A resolução, porém, não chega à alta definição e os filmes normalmente têm tamanho de 720 x 480 pixels e som stereo.
Outro entrave é a velocidade das conexões nacionais, já que os títulos disponibilizados pela Saraiva normalmente ultrapassam 1 GB. Apesar de possuir opções de pausa e interrupção de downloads, ainda assim os usuários precisam esperar pelo menos algumas horas para assistir aos filmes alugados.
Nos EUA, porém, a realidade é outra. Lojas virtuais como a iTunes, por exemplo, disponibilizam títulos digitais no mesmo dia de lançamento de versões físicas e apresentam preços mais adequados ao conteúdo ofertado. O aluguel de filmes recém-lançados sai a partir de US$ 0,99 (cerca de R$ 1,70), enquanto a compra custa US$ 14,99 (pouco mais de R$ 25), preços normalmente abaixo do custo de um disco físico.
A líder desse tipo de serviço nos Estados Unidos é a Netflix, que também oferece locação de DVDs e Blu-rays com entrega e retirada em residência. A empresa se destaca pela variedade de aparelhos em que pode ser utilizada. A lista vai de dispositivos portáteis como celulares e tablets até video games. Tudo isso, claro, não está disponível no Brasil.
O Hulu.com é destino certo para quem curte seriados. O site disponibiliza, gratuitamente, episódios das séries horas depois da exibição na TV para serem assistidos via streaming. Apesar de não contar com vídeos em alta resolução, o serviço já foi responsável pelo cancelamento de muitas assinaturas de TV a cabo nos Estados Unidos.
Por questões de licenciamento, o serviço não está disponível por aqui. A razão são os direitos autorais, que normalmente pertencem às emissoras que transmitem os episódios no Brasil. Como estas empresas constantemente travam guerra contra o download de seriados, não dá para esperar que elas negociem com um serviço de streaming online tão cedo.
A mesma lógica vale para a ausência da iTunes Store e Netfilx neste segmento no Brasil. Os acordos de licenciamento são complicados, e exigem grandes negociações e milhares de dólares em investimento. Por enquanto, o retorno financeiro destas iniciativas ainda não é garantido por aqui.
Ouvindo (algumas) músicas
A Pandora Radio é responsável pela descoberta de novos artistas por muitos americanos. Com um sistema baseado em recomendações de acordo com os gostos musicais do usuário, o site é um dos maiores provedores de áudio em streaming do mundo. Devido às mesmas questões de licenciamento de faixas, não está disponível no Brasil.
Na mesma categoria está o Last.FM, que funciona basicamente da mesma forma mas também é capaz de registrar as faixas reproduzidas pelo PC do usuário. O serviço estava disponível gratuitamente a todos os brasileiros até julho de 2008, quando o acesso às rádios de recomendações foi restringido, de forma gratuita, aos usuários dos EUA, Reino Unido e Alemanha.
Nos usuários brasileiros está disponível o Grooveshark, que esbarra na ilegalidade ao disponibilizar faixas que são carregadas ao site pelo próprio usuário. Há também as rádios online, como as disponibilizadas pelo UOL, Terra ou GVT.
Se a oferta de rádios streaming para brasileiros não é adequada, o que falar sobre os serviços de venda de músicas individuais? São poucos os sites que vendem faixas desta forma, e os preços normalmente são bem salgados.
Enquanto uma faixa recém-lançada sai por US$ 0,99 (cerca de R$ 1,70) na iTunes Store, a UOL Megastore oferece a mesma música por R$ 1,99. Enquanto os preços são parecidos para arquivos individuais, álbuns completos chegam a ser até mais caros que a versão em disco, inviabilizando a compra por este tipo de serviço.
O jeitinho brasileiro
Apesar de todas essas dificuldades, era de se esperar que o brasileiro usasse o famoso “jeitinho” para ter acesso a conteúdo de qualidade a preços justos. E não estamos falando de pirataria nem métodos ilegais, é possível aproveitar tudo que as redes citadas neste artigo têm para oferecer e pagar devidamente por isso.
Para as redes dos consoles, uma das principais opções é a compra de gift cards. Basicamente, são cartões-presentes como os disponíveis em livrarias e megastores, que permite até um certo valor. Os gift cards podem ser comprados com certa facilidade em sites como Mercado Livre e Maximus Cards, apenas para citar dois exemplos.
Para comprar na iTunes Store, muitos usuários se cadastram na versão argentina do serviço. Lá, a grande maioria dos jogos para iPhone e iPad estão disponíveis, com preços em dólar que podem ser pagos com cartão de crédito brasileiro.
Servidores proxies podem ser utilizados para burlar a restrição de região existente em sites de música ou vídeos. Ao transformar o endereço IP, que identifica seu computador, em um número americano ou europeu, este tipo de aplicativo engana o servidor dos serviços e permite acesso ao conteúdo.
Alguns programas deste tipo estão disponíveis no Baixaki, como o Surf Anonymous Free. O lado negativo é que muitos destes serviços deixam a conexão mais devagar e, com isso, podem impossibilitar a utilização de streamings ou downloads.
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